Marcelo Rocha

Empurrar e puxar o pedal?

              Talvez uma das frases mais faladas por ciclistas quando dão um palpite a alguém que está iniciando o desenvolvimento de sua técnica de pedaladas é: “você tem que empurrar e puxar o pedal”. Mas será que isso existe mesmo? Imagine um ritmo ou cadência de pedaladas igual ou maior do que 90 rotações em um terreno plano por exemplo (uma cadência bastante comum); será que quando uma perna está descendo e empurrando o pedal, dá tempo para que o ciclista “puxe” a outra perna? Não! Admitindo que isso fosse possível nessa situação exemplificada, o que será que aconteceria com a eficiência de pedaladas? Nós teríamos os vetores de força da pedalada bastante alterados e uma técnica ineficiente. E a ciência nos prova exatamente o contrário do que diz o senso comum, como por exemplo no trabalho de Gregor em 2000 que realizando diversos testes para as forças atuantes na pedalada com pedais devidamente instrumentados verificou que embora os ciclistas freqüentemente sintam que estão puxando o pedal durante a recuperação (subida do pedal), isso é raro. E além disso, puxar o pedal não é essencial para uma técnica eficiente de pedalada no ciclismo, e os ciclistas competitivos reservam essa ação para subidas e arrancadas (também chamadas entre os atletas de sprints). Foi verificado também que a simetria de força na pedalada é rara, e iremos encontrar constantemente assimetrias entre as pernas na força aplicada ao pedal.

 

 

Mais uma vez vemos que as afirmações feitas a esmo em geral não têm nenhum valor. Tomem muito cuidado ao ouvir palpites e conselhos de pessoas que não têm preparo técnico-científico para tal.
REFERÊNCIAS
– GREGOR, R. J. Biomechanics of cycling. In: GERRET, W. E. & KIRKENDAL, D. T. Exercise and Sport Science. Philadelphia – EUA: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.