Marcelo Rocha

Cadência de pedaladas em provas de triatlo e contra-relógio

Por Marcelo Rocha.

 

         De todas as variáveis que influenciam o rendimento de um ciclista em uma prova de triatlo (sem vácuo) e em um contra-relógio, a cadência é disparada a mais importante visto que além de ser talvez a grande responsável pelo sucesso ou não do atleta, ela pode ser modificada durante a prova (o equipamento, a condição física e outras variáveis não podem ser modificadas durante).

Para a escolha da melhor cadência devemos ter em mente um conjunto de fatores. Entre eles estão: fator mecânico (ou no caso biomecânico, equipamento e corpo humano), o fator metabólico (fisiológico e bioquímico) e outros. Fazendo uma análise de todos os fatores, devemos pensar da seguinte forma:

– Eu quero economizar meus músculos, ligamentos e tendões, utilizando uma relação de marchas mais leve e pedalando mais vezes por minuto? (com um maior gasto energético total)

– Ou eu quero um maior desgaste neuromuscular, utilizando uma relação de marchas mais pesada e pedalando menos vezes por minuto? – Qual a diferença entre os dois métodos? E qual o mais eficiente para uma bicicleta com o posicionamento aerodinâmico?

 

Toda vez que utilizamos uma cadência mais baixa (até 80rpm em média), para uma dada velocidade, temos as seguintes condições:

– maior desgaste neuromuscular (músculos, tendões, ligamentos etc)
– menor consumo de O2, menor ventilação e menor freqüência cardíaca
– menor retorno venoso e menor fluxo sanguíneo na musculatura utilizada

– menor gasto energético total (maior eficiência bruta)

 

E na mais alta (>90rpm), para a mesma velocidade temos as seguintes condições: – menor desgaste neuromuscular (melhora na eficiência muscular)

– maior consumo de O2, maior ventilação e maior freqüência cardíaca

– maior retorno venoso e maior fluxo sanguíneo na musculatura utilizada
– maior eficiência delta (melhor aproveitamento entre gasto energético e o desempenho atingido).

Na verdade, geramos mais dúvidas para a escolha da cadência, mas o que está em questão é a posição aerodinâmica e a melhor cadência. Quando flexionamos em demasiado o tronco e o quadril (que é o caso da posição aerodinâmica), nós comprometemos o fluxo de sangue para o membro inferior pela artéria ilíaca, o que compromete também o retorno venoso; isso faz com que a escolha de uma cadência mais alta seja mais eficiente (próxima à 90rpm), na medida em que possibilita um maior retorno venoso e maior fluxo sanguíneo na musculatura utilizada, além de não comprometer a integridade dos tendões e ligamentos (é comum ver triatletas com lesões, por exemplo, no trato-iliotibial; normalmente atribuída à corrida, mas pode vir do conjunto cadência baixa e selim muito alto que é uma característica comum no triatlo).

Como foi visto acima, a cadência de pedaladas tem realmente um papel muito importante principalmente nas bicicletas de triatlo e contra-relógio; se você pensa em modificar sua cadência de pedaladas, procure orientação adequada e treinos específicos. E lembre que o conjunto é importante: cadência, posicionamento, condição física etc. Acompanhe a parte II desse artigo que irá tratar da cadência de pedaladas em provas de MTB.

 

Bibliografia Consultada.
– Denadai BS, Ruas VDA, Figueira TR (2005): Efeito da cadência de pedalada sobre as respostas metabólica e cardiovascular durante o exercício incremental e de carga

constante em indivíduos ativos. Rev Bras Med Esporte – Vol. 11, No 5 – Set/Out, 2005.
– Burke ER (2003): High-Tech Cycling. Champaing,IL (USA): Human Kinetics.
– Lucia A, Hoyos J, Chicharro JL (2001): Preferred pedaling cadence in Professional cycling. Medicine Science of Sports and Exercise. Aug;33(8):1361-6.